Eles vão e vêm para nos matar
Vêm feito um vento ruim empesteando o ar
Encarnação do mal, do pior que há
Joelho no pescoço pra nos sufocar
A faca sangra o pouco, não quero sangrar
Ainda sou bem moço, me proteja, Jah
Na hora do almoço, ouço rá-tá-tá
Desliga o RaTimBum, se abaixa atrás do sofá
Aí
Três da tarde de uma sexta
Escrevo uma página extra
Compete a mim reportar
Que 17 é o novo número da besta
E vários no rap tirando uma sesta, festa e treta
No meio dos defensor da família
Que só não defende se a família for preta
Bancada da Bíblia, da Bala e do Boi, tudo lado a lado
Esse é o BBB que me rouba a brisa
Tão doido pra me ver eliminado
Esses xenofóbico culpa o Norte e Nordeste
E tudo que vem de lá
Sendo que o Sul e o Sudeste
É que provam em toda eleição que ainda não sabem votar (tá ligado!)
Quero ir pro espaço igual Sun Ra
Cansado de surra
Se o presidente falar, me sinto Caetano
Cara, cê fala de forma burra
Não li na borra
Pra um corpo preto, a vida é um eterno parkour
E todo disco uma denúncia
Antes do Extra, agora do Carrefour
Bala que busca criança em casa
Polícia pra quem? Jamais protegeu (Pra quem?)
Me faz sentir não sou dono de mim
Tipo Tannerie, centro, mundo e eu
O que importa é o take, eles botam make
Vida facção, eles pintam Drake
E assina lei que assassina quem for preciso
É o Brasil da vacina fake
Pé de breque sem pé de break
E o copo de leite o puro hate
Sei que nunca vi patriota mais deprimente
Lambendo a bota dos States
Ninho de snakes
E eu não falo de Hideo Kojima (não!)
Se eu não digo uma merda que presta
De que vale tanto rima?
De que vale a banca? De que vale a cena?
De que vale a sina e sua sanidade?
Cê não percebeu? (Presta atenção!)
Se você tá crescendo sozinho, dog
A favela ainda não venceu (Ainda não)
Isso não tira seu crédito
Mas olha ao redor, tem até neonazi
Faz lembrar do discurso do Brown
Tá perdido? Volta pra base!
E a esquerda precisa pensar nos preto não só quando for pro front
Quer melhorar o amanhã?
Faz um favor pra si: Aprenda com o onti
E esse discurso negacionista tá tão no extremo, de forma insana
Que às vezes torço
Tomara que encontre e caia da beira da Terra plana (segura!)
Um chora, o outro vende lenço
Vários não vê que tá tenso o momento
Meus rap cada vez mais denso
Quem ficar raso, meu bem, só lamento
Esse universo é imenso
Só que tudo é mais intenso aqui dentro
Esqueça essa porra de rede
O povo é que precisa de impulsionamento
Nunca lancei um verso ruim
E sei que isso eleva o padrão
Mas quando eu paro pra escrever
É a folha que sente a pressão
Sabe o que é pressão pra mim?
Foi quando eu vi minha mina no hospital
Ou os polícia invadindo o estúdio
Arregaçar no verso é normal
Instinto primal, sensação sem igual
Muito melhor que pegar na peça
É pegar na caneta e cuspir rajada
De ideia pesada que te atravessa
Matraca atolada, trago tonelada
Prata que incinera quando começa
Mas quem me dera nunca mais precisasse fazer uma outra dessa, né não?
Caique, cê sabe que eu nem queria voltar pra isso aqui
Diário de Bordo, mas minha caneta tava engasgada, deixa ela cuspir
Os livro têm muita coisa escrita, é o que ele diz
Em pleno berço de Machado de Assis, olha o que eu sou obrigado a ouvir
Nega a ciência, esconde a doença, só negligência
Essa é a sentença pra falta de consciência que colocou ele ali
Diário 6, mas meu recado é pra vocês
Acorda pra verdade de uma vez
Porque ele mermo não vai me ouvir (Não vai me ouvir)
Minha mãe, meu pai (e aí)
Até quando vai? (até quando?)
Quando é que sai? (quando é que sai?)
Da liberdade o nosso alvará? (eu só quero saber)
Minha mãe, meu pai
Até quando vai? (até quando vai?)
Quando é que sai? (por favor)
Da liberdade o nosso alvará? (Yeah, yeah)
Minha mãe, meu pai
Tanta perda e nós ajoelha
Porque esse governo de morte foi o atalho pra bandeira ficar vermelha
Do sangue do povo que espelha a raiva hoje transborda
Escrevo com ferrão de abelha em busca de dias melhores
Fim
Diário de Bordo