Canal aberto, cabeça fechada
Barriga cheia, coração vazio
Prato raso, bolso sem fundo
Dinheiro gasto, sapato barato
Vendem o corpo, vendem a alma
No boca-a-boca, de porta-a-porta
Devoram o circo, brincam com o pão
E ainda dão troco
Porque eu sou consumidor
Porque eu sou espectador
Porque eu sou um indigente
Porque eu sou convalescente
Pago pra ver, mesmo sem poder
Pago impostos, minha fé cobra juros
Pago minhas penitências
Pago minhas assistências
Porque sei que a previdência
Não vai me garantir a vida
Quando eu estiver perto da morte
Melhor eu não brincar com a sorte
Porque eu sou cidadão
Porque eu tenho religião
Porque eu sou necessitado
Porque eu quero ser enganado
Cinco dias na semana (Uma escolha em cada mão)
Não me sobra, nem me falta (O salário devido da vida)
Meu café-com-leite, meu pão com manteiga (Cerveja no casco, cigarro no bolso)
Deus abençoe estes nossos pães (Ateus aos leões!)
Porque eu sou conformado
Porque eu sou escravizado
Porque eu sou depreciado
Porque eu sou alienado