Bixa, preta, pobre, vadia, degenerada
Infectando a sua mente branca e civilizada
Cagando pra cultura, passando a merda na cara
Vomitando seus valores, sua louca afetada!
Limpeza, saúde, sanidade, higienismo
Combinam muito bem com a palavra fascismo
Quero mais é que se exploda!
Segurança do dinheiro...
A grade do condomínio, o porteiro e o medo
De ser assaltada, perder o celular
Discar 190 e poder legitimar
A câmera na esquina, e o tiroteio na favela
Pra ser cidadão de bem igual o galã da novela
Bixa, preta, pobre, vadia, degenerada
Que se foda o trabalho, eu não vou me escravizar
Pra ficar pagando conta e poder participar
Dessa vidinha medíocre de consumo e modinha
Tomar uma cervejinha e me vangloriar
Da liberdade que eu tenho de poder me conformar
Tomar uma cervejinha e me vangloriar
Da liberdade que eu tenho de poder me conformar
Aí... Quando o bagulho ficar loco
Quando tu não tiver mais dando conta da brincadeirinha
Cê faz o seguinte:
Procura um analista
Conta pra ele todos os seus traumas e desejos
Diz que não queria ser só mais uma mulherzinha
Que reproduz valores dados
Diz que não queria ser mais um escravo do trabalho
Diz que queria algo mais
Aí... O especialista no assunto
Mostra onde tá você e onde tá o mundo
Te recomenda uns remedinhos
E de repente... Seus problemas acabaram!!!
Bixa, preta, pobre, vadia, degenerada
Poesia engatilhada e apontada na tua cara
Moro no teu abandono, tô comendo do teu lixo
O excesso do espetáculo garante o subsídio
O meu lucro é de recicle, detona a fashion week
É o bonde dreadlock apavorando as bixa chic
Bixa, preta, pobre, vadia, degenerada
Sou o terror da família, a peste negra encarnada
Tô de boa do ciúme, que se foda o casamento
Sem herança ou propriedade
Vou pra comunidade construir um corpo livre
Sem normatividade
Com crianças e idosos em um pé de igualdade