Do tempo que eu fui peão Eu nem gosto de lembrar De um transporte que eu fiz Lá de Goiás pra Cuiabá, Num dia de sexta-feira Vejam só o que foi se dá Quando a tarde foi caindo Deu um forte temporal Relampeava e trovejava Clareando o mundo inteiro O temporal foi deixando Os animais em desespero, Nesta viagem nós levava Quinhentos bois pantaneiros E na frente caminhava Boi fumaça traiçoeiro Mesmo embaixo de chuva Nossa viagem continuava Por não ter lugar de pouso Aonde nós nos encontrava, Meu filho era o ponteiro E na frente caminhava Repicando seu berrante E a boiada acompanhava Chegando em uma porteira Foi assim que aconteceu O burro não encostava E para abrir ele desceu, O boi fumaça investiu E o menino não percebeu Nas guampas do pantaneiro Pro ar ele suspendeu... Fiquei louco nessa hora Quando meu filho gritou Eu quis salvar a sua vida Mas já não adiantou, A guampa do boi fumaça Com seu sangue avermelhou Minhas lágrimas sentidas Com a chuva misturou Perdi meu filho querido Nessa viagem traiçoeira Mas guardei no coração Suas palavras derradeiras, Eu queria ser peão Mas findou minha carreira Papaizinho me enterre Aqui perto da porteira Abandonei esta lida O prazer pra mim morreu Mas não posso esquecer Aquele golpe traiçoeiro, Quando escuto um berrante Me arrepia o corpo inteiro Lembro do filho querido E o tempo que eu fui boiadeiro