Era criança mais me lembro ainda Da voz suave do meu pai chamar Vamos meus filhos, é chegada a hora O chão sagrado vamos semear Todos felizes carpinando o eito Meu pai puxando um grande mutirão E eu caçula levava o Corote Servindo água para os meus irmãos Fim do trabalho, a semente plantada Cumprindo a nossa sagrada missão Então meu pai com fé e esperança Na capela pede chuva mansa Para vingar o centeio do pão Porém, a reza não foi suficiente A chuva santa demorou chegar Foi quando a seca matou nossa roça Primeira vez que vi meu pai chorar Fiquei olhando no seu rosto triste Cobri de lágrimas a derramar Minha inocência não compreendia Se Deus é bom, porque nos castigar No outro dia levantei bem cedo E no que vi não pude acreditar Maior ainda foi a minha revolta Ao ver que em cima das plantinhas mortas Choveu a noite inteira sem parar Entrei, chorando: Papai, vamos embora Não quero mais viver neste lugar Ele me disse: Vai com Deus, meu filho Mais o teu pai não vai te acompanhar Eu sou caboclo de alma sertaneja Tenho raiz fincada neste chão Até meu último dia de vida Quero viver aqui no meu rincão Mesmo que a terra às vezes negue o fruto Minhas origens não negam, não Mesmo que alguém me considere louco Eu quero ser o último caboclo A abandonar meu querido sertão Mesmo que alguém me considere louco Eu quero ser o último caboclo A abandonar meu querido sertão