Foi demais. Dá um tempo, desta vez foi demais. Está doendo pra valer. E é tão doentia essa tua compaixão e tão pequeno me abraçar se desinfetas tuas mãos. E tua vontade de perdoar o que eu não tenho vergonha de ser nesse teu mundo vulgar. Ah, acho tão discreto esse teu charme e teu sorriso nos jornais. Diz então, como podes me abrir o teu lar se pões pregos em meu corpo? E os espinhos em meu coração não me deixam caminhar sem deixar esse rastro no chão. Faz assim, desenha um parque pra mim e vem brincar até a tua mãe chamar. Que amanhã aproveitamos o giz pra desenhar outro lugar. Quão cruéis crianças podem ser? Quão cruéis elas podem crescer e mostrar o que aprendem com os pais? E apontar seus dedos aos demais. Será que nascemos mesmo assim ou será que deixamos tudo desabar? Pois não lembro de um dia sequer sem sentir não ter meu lugar e sem ver meus parques de giz sumirem com a chuva.