Eu sei que o teu isqueiro é talvez de contrabando E a chama dos teus olhos já quase não se vê Mas serás tu que acenderás as velas, para quando Cantarmos noite fora o parabéns a você Não sei que aniversários outrora festejamos Em noites de boémia e cabeça perdida O certo é que passados os tumultos, aqui estamos Excepto alguns que a morte já levou de vencida Velho cantor, foi também graças a ti Que me fiz homem de cantar Se a madrugada hoje me trouxe junto a ti Foi para te abraçar E tu, ferido da vida, por vielas trespassado Olhando p'ró abismo que outros chamam miradouro Permite que te lembre que cantavas bem o fado E no fim gargalhavas mostrando um dente de oiro Teu fado era feito pra se ouvir de muito perto E eu arregalava os meus espantos de criança Um peixe dentro de água, não estaria mais liberto Por isso hoje navego com o teu leme na lembrança