Tenho no meu escritório Num cantinho reservado As tralhas de um vaqueiro Que já trabalhou com gado Eu sendo doutor formado Um amigo perguntou Me responda por favor Eu não consigo entender Estás guardando pra quê? Esses troços sem valor Amigo eu vou lhe explicar O motivo e a razão Antes de eu ser um doutor Eu morava no sertão Meu pai com os calos na mão Agarrado com a enxada Numa labuta danada Ganhando pouco dinheiro Trabalhava de vaqueiro Numa terra abençoada Meu pai ficou no sertão E eu fui morar na cidade O que ganhava na roça Pagava a minha faculdade Ele longe com saudade Às vezes sem comer nada Dormindo numa rede rasgada E eu numa cama quente Eu não posso simplesmente Fingir que não sei de nada Tá vendo aquela cabaça Pendurada na parede Tinha nela pouca água Que papai matava a sede Guardei os punhos da rede Da rede que ele deitava E a tarrafa que pescava Aqui eu também guardei Pra chegar onde eu cheguei Sem meu velho eu não chegava Tá vendo aquele gibão Tem a poeira da estrada Esse chapéu de vaqueiro E um troféu de vaquejada São eles que é bem guardados Que comigo longe vai Do escritório não sai Eu guardo com muito amor Se hoje eu sou um doutor Eu devo tudo ao meu pai Enquanto eu estudava Nos bancos da faculdade Meu velho pai trabalhava No roçado até mais tarde Com muita dificuldade Sempre mandava dinheiro É meu herói, meu guerreiro Contei tudo pra você E tenho orgulho em dizer Que meu pai foi um vaqueiro É meu herói, meu guerreiro Contei tudo pra você E tenho orgulho em dizer Que meu pai foi um vaqueiro